sábado, 9 de janeiro de 2010

A Epopeia das Trevas (89). Chega! Basta! Exportamos petróleo e importamos álcool e armas


A espera é tão penosa e faz-me sofrer fechada no palpitar
angustiado, oprimido como nunca senti
Não quero mais regressar como órfã
Quero entrar qual montanha de ventura.
Vou fazer-me ídolo e idolatrar-me pura
Vou fazer do meu mundo uma procura
Com vozes a proclamarem-me que é uma loucura
E não construir outro abismo sem fundo para o meu povo

A tristeza já está insuportável
Sinto-me desfalecer quase insondável
Aguardo a chegada com o seu final.
Com séquito e grande cerimonial
jóias e diamantes do mais puro mineral
Não mandarei mais tocar músicas e fazer grande Carnaval.
Grandes coros a anunciarem a minha eterna
aberrante reeleição
E deslumbrada, os meus descendentes reinarão
Farei uma batalha, uma cruzada, uma moldura sem retrato
Para segurar a minha graça e encantos sempre inseguros
Não deixar jamais o que nascer impuro
Para continuar nele o meu amor, o meu ser
Deixar na sua semente uma grande muralha, um muro
E porvir, sentir dentro de mim a vida renascer

Abandonaram-me, cravaram-me num túmulo encerrada
Nas árvores cem céu, numa desfolhada
Resta-me o aviltamento da humilhação
Sem o renascer, o viver do tempo moderno
na sua teia enredada
Esperando sempre das agruras ser violentada
sem ao menos para descrever um caderno
Enquanto o mundo corre para o futuro
E eu, nós, as pessoas fora dele a sonhar
Esquecendo tudo nele impuro
Vivendo, sofrendo, esperando solitária navegar
Nas tormentas das pontes e dos estádios inseguros

Em 2010 ainda existem regimes ditatoriais

E esta náusea insustentável da violência doméstica
e política
Fez com que: não quero mais marido!
Chega! Basta! Exportamos petróleo e importamos álcool e armas

Convivo no continente da guerra dos traficantes de armas
do conselho de segurança da ONU
Com o consentimento deles, da ONU, que são apenas vulgares seres humanos
Da nova civilização do holocausto, boicotam-se os governos e suicidam-se
as populações à mais execrável fome civilizacional
Somam-se as organizações não governamentais para multiplicarem a nossa fome
Regredindo aos tempos dos cruzados e das cruzadas
Ao templo de Salomão, ao cálice sagrado do sangue Rh P+, mais petróleo
Este bem muito mal gerido que é mais que suficiente para nos iluminar
Mas não basta, nos desbasta:

A electricidade da nossa escuridão, do sempre vai e pouco vem, traz-nos outro mal… a poluição do fumo dos geradores
Não afecta as democracias porque se apoiam nas ditaduras petrolíferas
No segurança, pequeno ditador sentado, cercado com um vulgar cordel
Na vulgarização da Kalashnikov espera os inimigos do estacionamento

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