sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A Epopeia das Trevas (110). E em Angola, como um violento tremor de terra, apenas restam ruínas da independência e algum lixo humano


Na calada da noite ou do dia as traseiras dos prédios são óptimas, seguras
para amontoar o lixo. O calor justifica a preguiça e demais acções dos desumanos
Sempre cansados! Eternamente, habitualmente despreocupados!
Importunados pelos mosquitos dos pântanos palustres que amiúde constroem
E os ratos surgem como comboios rápidos perante a passividade dos seus irmãos na superfície e até das cisternas de água suspensas. E a tribo bantu não desperta
Infestam-se epidémicos, divertem-se, comem, dançam com a peste negra
Batalham os despojos das festas que se inventam. O bantu está sempre em festas
Está tudo carcomido, fendido como árvores sem folhas que são esqueletos e teias de aranha

Juraram! Tudo o que estiver em pé será destruído
De verticais serão homenageados horizontais
Tudo começa logo após o nascer e acaba pouco depois

Sinto-me confusa! Não sei se a vida nos convida à morte, ou a morte nos abandona
Abriguei-me no analfabetismo e na mais pura ignorância
Destruindo, arrasando o que sobrou da estrutura arquitectónica colonial
Universalizamos uma imensa pocilga com inenarráveis porcos

O MEU PROFESSOR

Mas que amigo cativei. O professor Batista juntou-se, reforçou a minha epopeia
Nunca lhe perguntei mas acho que é Pigmeu. A cabeça dele é uma criança
É meu cliente habitual, varredor do vinho tinto, paga no fim do mês. Com preces para o seu patrão que já lá vão três meses sem um tostão. O nosso namoro de verdade, antes era a fingir, começou quando ele mudou, fugiu de casa.
«O esgoto intensificava, empurrava o meu casebre. Tive que badalar, baldei-me. Baldeavam tudo para o meu casebre. As paredes liquefeitas já do lar fissurado. Derrogados alicerces em juízo e fora dele. Com grande empenhamento voltámos aos tempos gloriosos da Idade Média»
Sei, a conduta da água dos oitocentos metros…
«Oitocentos milímetros»
Faz diferença?!
Ele lançou duas setas dos seus olhos afundados para o alvo bem visível das minhas chuchas.
«Somos um povo secularmente paciente mas diariamente impaciente. Não queremos saber de nada, nem de ninguém… extinguimo-nos»
Com emprego para empresas estrangeiras e estrangeiros, nacionais não!
«Se você gritar: abaixo a exploração! O nosso povo vive na miséria! Presidirás mais um partido político»

Os dias esticaram até um mês. Ele não aparecia, porque seria?
Desconfiei que a conta fiada não mais pagaria
Alvitrei-lhe o esquecimento. Em mais uma noite que a minha vida regredia
ele voltou. Marado, descarregou-se do assento, já comprou carro bonito:
«Venho pagar os juros e a minha conta. Demorei… assaltaram-me
não me levaram, levaram-me os documentos. Sim! Tive que comprar carro
Mesmo assim saio de casa às quatro da manhã
para percorrer incógnitas distâncias»
E a tua esposa?
«Semeia!.. Pomba em pombal domesticado, arrulhado
com receita da feitiçaria a favor das concubinas:
Vai-se a um cemitério e recolhe-se um crânio,
depois esmaga-se bem até ficar moído, em pó
Mistura-se na comida e bebida da esposa
Podemos entrar em casa com o arsenal das nossas amantes
que ficam invisíveis. A dona da casa não sente, nada vê»
Muito patusco!
«É o tempo pagão que dealba patranhas nas nossas seculares artimanhas»

Sem comentários: