terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Voltaire. Em Portugal eles estavam matando mulheres e crianças por comer carne nos dias santos.



Na Espanha a inquisição detinha todo o controle – todos os instrumentos de tortura eram usados para prevenir o crescimento da mente. A Espanha, que tinha expulsado os judeus, ou por assim dizer, seu talento; que tinha expulsado os mouros, ou seja, seu bom gosto e sua indústria estavam ainda lutando por todos os meios religiosos para reduzir o país à imbelicidade da verdadeira fé. Em Portugal eles estavam matando mulheres e crianças por comer carne nos dias santos. E isto para agradar o mais misericordioso dos deuses.

http://www.mphp.org/racionalismo/voltaire---robert-g.-ingersoll.html

Na Itália, o país se prostrava coberto por um enxame de cardeais e bispos e padres e monges e freiras e todos os representantes do santo ócio. A inquisição estava lá também -- enquanto mãos se juntavam em oração ou se estendiam em busca de esmolas, outras apertavam com alegria e decisão as alavancas das mesas de tortura, ou acendiam as fogueiras das santas chamas.

Na Alemanha estavam matando pessoas acusadas de fazer um pacto com o inimigo do homem. E no nosso bom país, perseguiam Quakers, roubando homens e crianças de outras crenças, tirando crianças do seio das suas mães, e exigindo trabalho com o chicote. A superstição dominava o mundo!

Só existe uma utilidade para a lei, só uma desculpa para o governo -- a manutenção de liberdade – para dar a cada homem o que é dele, para assegurar ao fazendeiro o que ele produz no solo, ao mecânico o que ele inventa e fabrica, ao artista o que ele cria, ao pensador o direito de expressar o que ele pensa. Liberdade é a respiração do progresso.

Na França o povo era a diversão dos caprichos do rei. Em toda parte estava a sombra da bastilha. Era sentida no sol mais forte, na casa mais feliz. Com o rei caminhava o chefe da tribo; atrás do trono ficava a câmara de tortura; a igreja recorria à mesa de torturas, e a fé era garantida com a fogueira; a ciência estava proscrita, e a filosofia, assim chamada, era o reino da superstição.

Nobres e padres eram sagrados. Servos eram vermes. A idolatria sentava no banquete e a indústria reunia as migalhas e os restos.

OS DIAS DE JUVENTUDE
Voltaire era do povo. Na linguagem de hoje, ele não tinha nenhum ancestral. Seu nome verdadeiro era François-Marie Arouet. Sua mãe era Marguerite d'Aumard. Sua mãe morreu quando ele tinha sete anos de idade. Ele tinha um irmão mais velho, Armand, que era crente, religioso e bastante diferente. Esse irmão costumava dar oferendas para a igreja na esperança de compensar a descrença do irmão. Até onde sabemos, nenhum de seus ancestrais era gente alfabetizada.

Os Arouet nunca escreveram uma linha. O abade de Chaulier era seu padrinho, e apesar de abade, era um deísta que não dava importância alguma para a religião, exceto com relação a seu salário. O pai de Voltaire queria fazê-lo um advogado, mas ele não tinha nenhum interesse pelas leis. Com a idade de 10 anos ele entrou no colégio Louis Le Grand. Era um colégio jesuíta e lá ele permaneceu por sete anos, saindo aos dezessete, e nunca freqüentando outra escola. De acordo com Voltaire, ele não aprendeu nada nessa escola com exceção de um pouco de grego, um pouco de latim, e uma grande quantidade de absurdos. Nesse colégio Louis Le Grand não ensinavam geografia, história, matemática, ou qualquer outra ciência. Era uma instituição católica controlada por jesuítas. Naquela época a religião era defendida e apoiada pelo estado. Atrás de toda crença estava a baioneta, o machado, a roda, a fogueira e a câmara de tortura.

Enquanto Voltaire estudava no colégio Louis Le Grand, os soldados do rei perseguiam os protestantes nas montanhas de Cevennes, para pendurá-los nos patíbulos, para torturá-los, para colocá-los na roda, para queimá-los na estaca.

Aos dezessete Voltaire decidiu dedicar-se à literatura. Seu pai disse, referindo-se aos dois filhos François e Armand: "Eu tenho um par de filhos tolos, sendo um em verso e o outro em prosa". Em 1713 Voltaire, tornou-se diplomata. Ele viajou para Haia junto com um ministro francês e lá ele se apaixonou. A mãe da garota o rejeitou e ele mandou as roupas para a moça para que ela o pudesse visitar. A trama foi descoberta e ele foi expulso. Ele enviou para a moça uma carta, e nela você percebe a característica de Voltaire: "Não se exponha à fúria de sua mãe. Você sabe do que ela é capaz. Você já experimentou muito bem. Finja. É a sua única chance. Diga a ela que você já me esqueceu e que agora me odeia; depois de dizer-lhe isso, ame-me muito mais".

Depois deste episódio, Voltaire foi formalmente rejeitado pelo seu pai. Seu pai enviou uma ordem de prisão e deu ao filho a escolha da prisão ou do exílio. Ele finalmente consentiu em tornar-se um advogado e disse: "Tenho trabalhado num escritório de um procurador que se detém em detalhes sem importância". Nessa época ele concorreu a um prêmio, escrevendo um poema que falava sobre a generosidade do rei que construíra o coro da catedral de Notre Dame. Ele não ganhou. Trabalhando um pouco mais com o procurador ele passou a odiar a lei e começou a escrever poesia e descrever a tragédia. Grandes questões estavam agitando a opinião publica. Questões que colocaram uma enchente de luz naquela época.

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