E um nevoeiro muito espesso tomou conta de Angola. A população diz que vem dos palácios alquímicos dos príncipes das trevas da governação. O nevoeiro alastra-se de tal modo que mesmo com as portas e janelas hermeticamente fechadas é inseguro. Os povos aterrorizados fogem e gritam a plenos pulmões: «É a Gripe C!!! é a Gripe C!!!»
Um de tenra idade descobre algo homólogo. Um carro de bebé abandonado
com duas rodas sobradas. Puxa-o e improvisa uma quadriga
Como um gladiador sem arena acelera e risca o brilho de prata
do César estacionado. O dono vê o seu bonito automóvel ficar feio
Não ousa contrariar o pequeno Spartacus e os seus modernos escravos
Os interiores dos caixotes do lixo são anotados nas mãos pé-de-cabra
O que resta da civilização, sobra para a escumalha
O freguês da padaria traz um saco e sorriso feliz
O pão voa-lhe da mão, roubado por um infeliz
O vizinho Fausto chega. O segurança particular incha-se. Protege-o e à sua sombra
Está com espingarda de assalto e pistola. Os abutres humanos acabados de sair dos ninhos vigiam a presa afastados. Fausto está inseguro, caminha, quase aos tropeções, medroso
Eh! Eh! Afinal o infausto vizinho tem muito medo. Hum, muito armado quando nos diz que não tem medo de nada, nem de ninguém
O vizinho do outro prédio deixa o carro mal estacionado. Corre como perseguido por um vulcão. Vê-se o pânico sair dos braços agitados que parecem querer ganhar asas e alçar voo
Fechem os portões! Genghis Khan está na outra rua a assaltar os prédios!
Duas senhoras europeias amaldiçoaram as compras da noite
Dois petizes como pequenos falcões sobrevoam rasantes. Lestos nos hábitos, de arrancarem sacos e carteiras
Abandonaram, deixaram a leveza aos movimentos feministas
Um general não se sabe de que academia militar saído está perante um dilema de uma batalha perdida. Grita do seu tanque civil:
«Socorro! socorro! raptaram o meu filho!» A polícia faz a cena do normalmente fim da peça para averiguações
Seis dos excluídos do Plano C desgarram-se. Estes são mais crescidos, vieram porque a coisa estava a dar. A polícia persegue-os, os jovens elevam-se até um sexto andar. A única saída é encurralarem-se num canto. Lembram-se dos momentos, da angústia
que o gato faz ao rato quando salta com a garra fatal
Três rendem-se aos incomensuráveis homens da lei
Os restantes optam pelo suicídio colectivo num voo só de ida
com regresso mortal. O chão duro e insensível tal e qual a ditadura aparou a moleza dos corpos
A jovem faleceu, os dois restaram calamitosos
Bazei com a venda. Alguns rebuçados e os chinelos facilitadores abandonaram-me Consegui atrapalhar-me nos degraus. Não queriam acompanhar o meu ritmo. Dançavam outra kizomba
Porra! Refugiei-me na minha tarimba
Quem mais sofre com tudo isto é o meu coração. A pressão arterial sobe, manifesta-se. Mas o médico tranquilizou-me, enviou-me para os tranquilizantes destes dias sempre infernais:
Vamos lá! Vamos lá!..
Tome-os com um pouco de líquido
água muito clara
Como um dia de sol prometedor, transparente
E ao escurecer dos desejos ao deitar
É um pequeno frasco com reacções químicas
para que a noite insista, seja muito escura
Um sem dia, ou será um sem noite?
Para que seja fácil suportar os deslizes
do regresso à opressão e escravidão
Oh! Como é difícil andar com os pés neste chão
Que dias tão tristes, apagados. Corromperam o sol!
Angola! Que mais pareces um continente perdido que jamais se encontrará?!
Imagem: FOLHA 8. A independência de Angola
1 comentário:
ya gramei bué
F.R. Batista
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